terça-feira, 1 de novembro de 2011

02 de novembro - Comemoração dos Fiéis Defuntos



“Também na cruz a grande angústia / da morte humana vós provastes / quando, inclinando a vossa fronte, / ao Pai o espírito entregastes.” (LH, Ofício dos fiéis defuntos)



No dia 02 de novembro, a Igreja celebra a Comemoração dos Fiéis Defuntos. Esta celebração teve início no ano de 998, quando Santo Odilon, abade do mosteiro de Cluny, determinou que este dia fosse o dia de oração pelos mortos para todos os seus monges. Como muitos outros mosteiros dependiam de Cluny, esta comemoração se propagou por quase toda a Europa. Em Roma a memória dos falecidos se tornou oficial em 1311. Em 1915, o Papa Bento XV estendeu esta celebração a toda a Igreja, tornando-a universal. Mas qual é o significado desta celebração tão preciosa à Igreja Católica?

Santo Odilon

Papa Bento XV

Ao longo da história da humanidade, notamos a preocupação humana em prestar o devido respeito aos familiares, amigos e companheiros já falecidos e, de maneira especial, em rezar por eles. Além disso, o homem, em praticamente todas as culturas, sempre se demonstrou inquieto diante do mistério da morte.

Já no Antigo Testamento, temos relatos sobre a oração pelos mortos: quando o Arcanjo Rafael diz a Tobit e seu filho que os assistia quando “orava e enterrava os mortos” (cf. Tb 12, 12ss) e quando Judas Macabeu manda oferecer um sacrifício pelos mortos (acreditando na ressurreição) para que fossem “livres de suas faltas” (cf. 2Mc 12, 43-46). Os relatos dos evangelistas também dão testemunho do ensinamento de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre a crença na vida eterna e na ressurreição: quando discute com os saduceus sobre a ressurreição (cf. Mt 22, 23-33); quando discursa sobre o pão da vida (cf. Jo 6, 54); quando encontra Marta após a morte de seu irmão Lázaro (cf. Jo 11, 23-27), entre outras passagens. E inúmeras são as passagens do Novo Testamento que fazem menção à doutrina cristã da ressurreição.

Muitas religiões, e até mesmo algumas denominações cristãs pregam a existência tão somente do Juízo Final, negando a existência de um Juízo Particular, que se realiza logo após morte. Nesta concepção, ao morrermos, nossa vida não continuaria na eternidade, mas permaneceríamos à espera do Juízo que só se realizará no Fim dos Tempos. Tomemos muito cuidado, pois esta concepção da eternidade é contrária ao ensinamento de Jesus Cristo e dos Apóstolos. Pois é o próprio Jesus que no alto do Monte Calvário diz ao ladrão arrependido: “hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23, 43). Também o Apóstolo São Paulo afirma: “desejaria desprender-me (do seu corpo) para estar com Cristo” (Fl 1, 23); e ainda, que “vivos ou mortos, nos esforçamos por agradar-lhe” (2Cor 5, 9). Encontramos de maneira claríssima a confirmação da existência do Juízo Particular na Carta aos Hebreus (9, 27): “Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo”. Assim, com toda a autoridade que lhe foi confiada por Cristo Jesus, a Igreja afirma com toda a certeza, que logo após a morte cada um recebe a retribuição eterna em sua alma imortal por meio do Juízo Particular, pois “não existe reencarnação depois da morte” (Cat. 1013), e “a vida eterna é a que terá início logo depois da morte” (Comp. Cat. 207). Esta recompensa pode ser a condenação (inferno) ou a salvação eterna (céu), ou ainda uma purificação para que se possa entrar na felicidade eterna.

Juízo Final - Michelangelo
Eis aqui a grande importância de rezarmos pelos falecidos: pois os que morrem na amizade de Deus, mas ainda não estão totalmente purificados, passam por esta purificação final, que chamamos de Purgatório (cf. Cat. 1030-1031), para que possam atingir “a santidade necessária para entrar na alegria de Deus” (Cat. 1054). Desta purificação nos dá testemunho o próprio Jesus Cristo, ao dizer que aquele que falar contra o Espírito Santo não terá perdão “nem neste século nem no século vindouro” (Mt 12, 32), sendo que este “século vindouro” significa a eternidade. Todavia, após a nossa morte, não podemos adquirir mais nenhum mérito para a nossa salvação. Por isso, pela comunhão dos santos, isto é, pela comunhão de bens que existe entre a Igreja triunfante (no céu), militante (na terra) e padecente (no purgatório), é que nós – que ainda estamos no tempo oportuno para alcançarmos, por meio de Jesus Cristo, méritos de salvação – podemos ajudar os nossos irmãos e irmãs que sofrem no Purgatório, a alcançarem aquela santidade que necessitam para ingressarem no Paraíso.
Portanto, eis a recomendação da Santa Igreja, que “desde os primeiros tempos do cristianismo, venerou com grande piedade a memória dos defuntos” (LG 50): que oremos pelos fiéis falecidos, pois a “nossa oração por eles pode não somente ajudá-los, mas também tornar eficaz sua intercessão por nós” (Cat. 958). “Assim a oração de uma alma peregrina no mundo pode ajudar outra alma que se está a purificar depois da morte. Eis por que hoje a Igreja nos convida a rezar pelos nossos queridos defuntos e a visitar os seus túmulos nos cemitérios” (Bento XVI).


Assim, retomando a questão litúrgica com a qual iniciamos esta reflexão, é que podemos compreender melhor o significado desta Solenidade dos Fiéis Defuntos, que é o apelo da Igreja aos seus filhos para que não se esqueçam da ajuda que podem e devem prestar com suas orações – principalmente o Sacrifício Eucarístico, – esmolas, indulgências e penitência (cf. Comp. Cat. 211), àqueles membros do Corpo Místico de Cristo que já partiram desta vida para a eternidade. E para encerrar, vejamos este maravilhoso trecho de uma homilia de São João Crisóstomo, utilizada pelo Catecismo Romano para reacender em nós a esperança na Divina Misericórdia: “Se os filhos de Jó foram sacrificados pelo sacrifício de seu pai (cf. Jó 1, 5), por que deveríamos duvidar de que nossas oferendas em favor dos mortos lhes levem alguma consolação? Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer nossas orações por eles”.


“Que as almas dos fiéis defuntos pela misericórdia de Deus descansem em paz. Amém.”



INDULGÊNCIA PLENÁRIA
Concede-se indulgência plenária, aplicável somente às almas do purgatório, ao fiel que, além de confessar-se, comungar, recitar o Creio e rezar ao menos um Pai-nosso e uma Ave-Maria pelo Santo Padre:
1º Visitar devotamente o cemitério, a cada dia, de primeiro a oito de novembro, e aí rezar pelos defuntos, mesmo que só mentalmente;
2º Visitar piedosamente uma igreja ou oratório e aí recitar o Pai-nosso e o Creio, no dia da comemoração de todos os fiéis defuntos.
(cf. Indulgências: orientações litúrgico-pastorais)

Referências:


- Bíblia Sagrada (Editora Ave Maria);
- Catecismo da Igreja Católica;
- Compêndio do Catecismo da Igreja Católica;
- Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II;

- Discurso por ocasião do Angelus - 02/11/2008 – Papa Bento XVI (fonte: www.vatican.va)
- Liturgia das horas – Ofício dos fiéis defuntos
- Um Santo para cada dia (Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini).

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